quarta-feira, 18 de novembro de 2009

AS TRÊS CATEGORIAS PEIRCIANAS E OS TRÊS REGISTROS LACANIANOS - III a onipresença das categorias

ARTIGO: AS TRÊS CATEGORIAS PEIRCIANAS E OS TRÊS REGISTROS LACANIANOS
DE: Maria Lucia Santaella Braga, Dpto de Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP
ED: Revista de Psicologia da USP, vol.10 n.2 São Paulo 1999

"3. A onipresença das categorias

Uma extensão importante que pode ser derivada da correspondência das categorias fenomenológicas com os três registros baseia-se no princípio da recursividade. Se as categorias são onipresentes, o real e o simbólico devem também aparecer no registro do imaginário, o real e o imaginário devem estar presentes no registro do simbólico e o imaginário e simbólico também devem estar presentes no registro do real.

O imaginário é a categoria psicanalítica da demanda de amor, o real é a categoria da pulsão e o simbólico, do desejo. A análise da demanda de amor, de fato, revela que ela depende da linguagem, não há demanda sem linguagem, pois a demanda humana se expressa através de signos ou através daquilo que Lacan chamou de cadeia de significantes. Alienada na linguagem a demanda humana é capturada no deslocamento infinito da cadeia metonímica do desejo, na cadeia de significantes do simbólico. Ao mesmo tempo, a demanda de amor é acossada pelas vicissitudes obscuras da pulsão sexual. Apesar da predominância da demanda de amor (primeiridade) que o caracteriza, o imaginário também apresenta sua face simbólica (terceiridade) e sua face real (secundidade).

Relações triádicas homólogas também aparecem no registro do real que está sob a dominância da pulsão. Esta indica a grande distinção que separa a sexualidade animal da humana. Pulsão é uma necessidade que não pode jamais ser inteiramente satisfeita. Devido à mediação do simbólico, a mera necessidade não pode existir para o humano. O que existe em seu lugar é o curso circular sem fim da pulsão. O papel do imaginário na pulsão também se torna aparente na fantasia que acompanha a busca humana pela satisfação.

O registro do simbólico, sob o governo do desejo, não é menos triádico do que os outros três registros. Sem o estofo do imaginário, o simbólico não seria nada mais do que uma cadeia vazia, um infinito deslocamento de significantes. Sem o real do corpo, por outro lado, ele não seria nada mais do que uma maquinaria combinatória, maquinaria desencarnada feita de padrões e regras."

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